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sexta-feira, 29 de junho de 2012

P'ra não dizer que não falei das flores



quando as flores se calarem diante de nossos olhos surdos 
e o perfume desaparecer de nossas narinas 
talvez sejamos capazes não mais de perceber a vida 
mas conscientizarmo-nos, ao menos, 
de que aquilo que agora temos 
não passa de mera sobreviência 

porque o silêncio das flores é o silêncio das almas 
a ausência do perfume é o vazio do espírito 
a incapacidade de vermos a flor que se resseca 
diante de nossos olhos 
a flor que se esvai em pálidas pétalas 
é nossa incapacidade de sentir a vida 
de tirar da existência ainda algum alento 
alguma utópica explicação para este todo já vazio 
deste todo autodestrutivo 

porque vem das flores a verdadeira beleza 
é delas que emanam a sensibilidade 
e a fragilidade tão necessárias à vida 

mas se flores já não há 
como havemos nós inundados de alguma vida? 
restam-nos as pedras e os espinhos e as sementes mortas 
no solo árido do corpo ressequido que nos é esmolado 
neste dia-a-dia em que nos danamos 
neste cotidiano em que nos enganamos 
ficcionando que somos alguma coisa 
além do trágico e do medo que nos consome. 





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