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sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Doroteia, a centopeia



 Todo dia parecia festa no canteiro do jardim.
     Muitas flores, de muitas cores.
     Muitos insetos barulhentos e quietos.
     Formigas, abelhas, besourinhos, borboletas, grilos, num corre-corre, num pula-pula, num voa-voa, prá lá, prá cá.
     É verdade que muitos estavam trabalhando, não viviam só brincando. Formigas carregavam folhas, abelhas faziam mel, aranhas teciam teias, minhocas cavavam túneis.
     Todos muito ocupados. E muito amigos...
     Quando acabava o dia, todo mundo se reunia.
     E era cada brincadeira, cada conversa, cada risada...
     Mas um dos bichinhos andava muito esquisito ultimamente.
     Era Dorotéia, a centopéia, que antes era bem alegre e agora só sabia resmungar.
     Gemia e reclamava. Implicava e sumia.
     Não queria ver os amigos. Não queria saber de ninguém.                        
     E todos se preocupavam:
     _ Que será que ela tem?
     Mas ninguém descobria. Mas ninguém adivinhava.
     _ Ela anda de mau humor – disse a formiga Tita.
     ­_ O sorriso dela era tão doce – disse a abelha Zizi _ , mas ela não sorri mais.
     _ Quem sabe se ela não está doente? _ perguntou a joaninha.
     E todos gritaram:
     _ Isso mesmo! Vamos chamar um médico.
     Veio o médico. O famoso doutor Caracol, aluno do doutor Caramujo,  médico mais famoso ainda.
      Quando ele chegou perto, Dorotéia botou a língua de fora e fez careta.
      Ele logo abriu a maleta:
      _ Obrigado, assim posso examinar melhor.
      Ela ficou envergonhada e parou de ser malcriada.
      Todos os amigos de Dorotéia estavam preocupados e queriam notícias dela. Doutor Caracol explicou:
      _ Topadas com os pés da frente dos dois lados. Unha encravada no pé número 18 do lado esquerdo e no 27 do lado direito. Calos nuns 35 pés do lado direito e nuns 42 do outro lado.
      _ Que horror! Coitadinha! E por quê?
      _ Sapatos apertados. Ela até hoje usa os sapatos que botou no dia em que aprendeu a andar. Já deixei com ela a receita de sapatos novos. Bem até logo.
      E foi embora.
Ana Maria Machado


 

Dorotéia, a centopéia
(segunda parte)

      Veio o médico. O famoso doutor Caracol, aluno do doutor Caramujo, médico mais famoso ainda.
      Quando ele chegou perto, Dorotéia botou a língua de fora e fez careta.
      Ele logo abriu a maleta:
      _ Obrigado, assim posso examinar melhor.
      Ela ficou envergonhada e parou de ser malcriada.
      Todos os amigos de Dorotéia estavam preocupados e queriam notícias dela. Doutor Caracol explicou:
      _ Topadas com os pés da frente dos dois lados. Unha encravada no pé número 18 do lado esquerdo e nos 27 do lado direito. Calos nuns 35 pés do lado direito e nuns 42 do outro lado.
      _ Que horror! Coitadinha! E por quê?
      _ Sapatos apertados. Ela até hoje usa os sapatos que botou no dia em que aprendeu a andar. Já deixei com ela a receita de sapatos novos. Bem até logo.
      E foi embora.

Ana Maria machado

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